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gaveta de chuva
15 novembre 2008

Continua

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é. Alberto Caeiro 1. súplica Usa os teus lábios da mesma forma que usas as mãos que nunca usaste nem abusaste Repete aquela noite como se fosse a última e que por acaso foi de dia 2. lembrança Tinhas aquela mania de fazer tudo até à perfeição e era ternura mais que perfeita Inventavas as gotas e tecias as madrugadas mesmo sem baba e sem orvalho Bolinavas pelos dias à descoberta da aurora e nunca a encontravas bastava-te a procura 3. indiferença Agora não queres saber e eu fico assim num presente imperfeito tal qual Affonso Romano de Sant’Ana entre um orgasmo e outro entre um poema e outro 4. Vais cair de pé e renascer deitada como um desejo grande que tanto tarda Quem te observa tem de semear quem te constrói vai de ceifar 5. Para seres verdade tens de te despir mas bem vestida podes mentir Eras um soneto suave e delicado para te conhecer apenas quando acabado 6. A saudade por vezes é suficiente para me reconfortar é evidente Todos os dias, mesmo o de amanhã nascem com o mesmo peso da manhã 7.
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